sábado, 22 de janeiro de 2011

Na Última página de uma antologia nova

Tantos bons poetas!
Tantos bons poemas!
São realmente bons e bons,
Com tanta concorrência não fica ninguém,
Ou ficam ao acaso,numa lotaria da posteridade,
Obtendo lugares por capricho do empresário...
Tantos bons poetas!
Para que escrevo eu versos?
Quando os escrevo parecem-me
O que a minha emoção,com que os escrevi,me parece--
A única coisa grande no mundo...
Enche o universo de frio o pavor de mim.
Depois,escritos,visíveis,legíveis...
Ora... E nesta antologia de poetas menores?
Tantos bons poetas!
O que é o gênio,afinal,ou como é que se destingue
O gênio,e os bons poemas dos bons poetas?
Sei lá se realmente se destingue...
O melhor é dormir...
Fecho a antologia mais cansado do que o mundo-
Sou vulgar?
Há tantos bons poetas!
Santo Deus!......

Fernando Pessoa,01 de maio de 1928

Um comentário:

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